Tema 2: Abordagem Comunicacional das Relações Interpessoais

INTERACIONISMO SIMBÓLICO

O interacionismo simbólico é uma abordagem sociológica das relações humanas que considera de suma importância a influência, na interação social, dos significados bem particulares trazidos pelo indivíduo à interação, assim como os significados bastante particulares que ele obtém a partir dessa interação sob sua interpretação pessoal.
Segundo a proposição de Hegel, por exemplo, e de outros filósofos que escreveram sobre a linguagem, o mundo simbólico só se constroi por meio da interação entre duas ou mais pessoas e, portanto, o simbolismo não é resultado de interação do sujeito consigo ou mesmo de sua interação com um simples objeto. Apesar de ser um sentido individual e uma base para todos e quaisquer sentidos que cada um dá às suas próprias ações, ela é fundada nas interações do individuo, ou naquilo que o "eu" faz sendo regulado pelo que "nós" construímos socialmente.
Mead foi um dos principais interaccionistas na tradição primitiva, de facto ele é considerado também como o arquiteto do interacionismo simbólico, ele concebe a sociedade humana fundamentada na base do consenso, de sentidos partilhados na forma de compreensões e expectativas comuns. A interação é elemento constituinte das formas de comportamento, e a natureza dos objetos do mundo social é simbólica. O ser humano é sujeito e agente, pois interpreta e simboliza. Mead fundamenta-se na convergência sociedade- individuo na comunicação e na tríade sociedade-individuo-mente como fundantes do ato social. A mente é a capacidade humana de aprender e usar símbolos. Tal capacidade possibilita a comunicação, baseada em uma linguagem com significados convencionados em um código.
Sendo assim, Mead considerou o ato de pensar como uma resposta interior a símbolos autodirigidos. A natureza da mente é social, uma vez que surge do processo social de comunicação.


INTERACIONISMO NA ESCOLA DE PALO ALTO


Os autores da escola de Palo Alto definiram os axiomas de comunicação.
- 1º Axioma: Não se pode não comunicar: Numa situação de interacção, todo o comportamento humano tem valor de mensagem. A unidade da comunicação é, assim, o comportamento, o qual constitui uma mensagem. Uma série de comportamentos (mensagens) interpessoais é uma interacção. Os padrões de interacção constituem unidades de comunicação de nível superior. Dado que todo o comportamento é comunicação, a mensagem não pode ser monofónica, mas é constituída de um complexo ou conjunto fluido e multifacetado de numerosos modos de comportamento: - Verbais, Gestuais, Contextuais, Tonais, Posturais, etc... Estes comportamentos, no seu conjunto, condicionam reciprocamente os seus significados. Uma propriedade básica do comportamento humano é que ele não tem oposto não existe um não comportamento, pois um indivíduo não pode não se comportar. Logo, é impossível ao indivíduo não comunicar. Os autores de Palo Alto consideram, portanto, que todo o comportamento é comunicação e toda a comunicação afecta o comportamento defendendo a impossibilidade de não comunicar.

- 2º Axioma: A comunicação tem um conteúdo e uma relação, sendo esta uma metacomunicação: Um acto comunicativo não se limita a transmitir informação – conteúdo – mas, simultaneamente, também impõe um comportamento ao destinatário – relação. O conteúdo de uma mensagem pode consistir em qualquer coisa que é comunicável, independentemente de a informação ser verdadeira ou falsa, válida, inválida ou indeterminável. A relação refere-se à espécie de mensagem e como deve ela ser considerada, portanto, em última instância, refere-se às relações entre os agentes comunicantes. Assim, o conteúdo transmite os "dados" da comunicação ao passo que a relação indica a forma como a mensagem deve ser entendida.


- 3º Axioma: A natureza de uma relação depende da pontuação das sequências comunicacionais: Para um observador externo, uma interacção entre agentes comunicantes pode ser vista como uma sequência ininterrupta de mensagens. Contudo, cada participante da interacção introduz sempre uma "pontuação da sequência de eventos", que nem sempre é coincidente com a do outro participante. A "pontuação" organiza os eventos comportamentais (logo, comunicacionais) e, portanto, é vital para as interacções em curso (definindo as contribuições de cada participante ou como Estímulo ou como Resposta, unidades comportamentais definidas no âmbito da Psicologia behaviourista). Em consequência, a discordância sobre como pontuar a sequência de eventos provoca conflitos quanto às relações. Por norma, o erro dos parceiros advém da própria crença de que todas as interacções têm de facto um começo e de que a pontuação da sequência é sempre possível.


- 4º Axioma: Os seres humanos comunicam digital e analogicamente: Na comunicação humana, podemos representar as realidades ausentes de duas maneiras:


- Através de um símbolo que tenha com a realidade que representa uma relação de analogia, mantendo um resquício de semelhança com ela – comunicação analógica;
-Através de um signo linguístico (ou não), instituído de forma convencional, que, portanto, mantém com a realidade que representa uma relação totalmente arbitrária – comunicação digital.

A principal diferença entre ambas consiste, portanto, na analogia vs. arbitrariedade:
Quando usamos um símbolo (comunicação analógica) para referir uma realidade, a relação entre esse símbolo e o seu referente é analógica;
Quando usamos um signo linguístico (comunicação digital) para referir uma realidade, a relação entre a palavra e o seu referente é arbitrária.

Na comunicação analógica usamos palavras enquanto sinais arbitrários organizados de acordo com as regras da língua natural da comunidade a que pertencemos; essas regras atribuem-lhes determinadas convenções semânticas.
Fora dessas convenções, não existe correlação entre o sinal linguístico e o seu referente, com excepção para as onomatopeias, que não são significativas. Pelo contrário, na comunicação analógica existe verdadeiramente algo de específico, de natural, entre o símbolo de que nos servimos e o objecto representado por esse determinado símbolo. A comunicação analógica tem relações mais directas com aquilo que é representado. A comunicação analógica tem as suas raízes em períodos mais arcaicos da evolução humana e, portanto, tem uma validade mais geral que a comunicação digital, que é mais recente e abstracta.

No âmbito da comunicação humana, praticamente toda a comunicação não verbal é analógica, englobando:


-Movimentos corporais;
-Inflexões da voz;
-Quaisquer outros indícios dos contextos em que ocorrem as interacções.
-Mímica;
-Sucessão, ritmo e entoação das palavras;


Embora a comunicação digital tenha sido fundamental para o desenvolvimento das civilizações humanas, no importante aspecto relacional, o Homem depende sobretudo da comunicação analógica:


-A comunicação digital é importante no que toca à troca de informação sobre os objectos com vista à transmissão do conhecimento…
mas:
-A comunicação analógica é mais eficaz para assinalar intenções e indicações de humor e para, assim, definirmos a natureza das nossas relações.
Assim, dos dois níveis a que funciona a comunicação humana:
-O conteúdo propriamente dito tenderá a ser transmitido no modo digital;
-A relação entre os agentes comunicantes, que consiste em elementos que indicam a forma como deve ser entendida uma mensagem, será preferencialmente transmitida de forma analógica.


5º Axioma: As permutas comunicacionais ou são simétricas ou complementares: As interacções humanas podem caracterizar-se pela:


-Simetria;
-Complementaridade;
… conforme a relação entre os agentes se baseie na igualdade ou na diferença.
Na interacção simétrica, os agentes tendem a reflectir o comportamento um do outro; a interacção caracteriza-se pela igualdade e minimização da diferença.
Na interacção complementar, o comportamento de um parceiro complementa o do outro, maximizando-se a diferença.


A relação complementar admite, assim, duas posições:


-Uma posição superior, detentora de poder;
-Outra posição inferior, de subordinação.


Qualquer uma destas posições pode ser:


-Objecto de negociação por parte dos agentes;
-Imposta pelo contexto social ou cultural;

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